quarta-feira, 4 de abril de 2018

252.


Foto de M 

Este frasco de elixir ofereceu-mo uma amiga. Tinha dentro um saco pequeno, daqueles todos dobradinhos para trazer na mala, preparados para os imprevistos que não cabem nas nossas mãos. Azul macio, com pássaros amarelos de asas abertas prontas a esvoaçar. Do meu apreço por sacos e pássaros sabe a minha amiga e com esse presente me provocou acomodando-o discretamente por detrás das palavras mágicas pintadas no vidro, certa de que ele e eu nos olharíamos com agrado. Não seria a sua casa definitiva, guardei-o no tal lugar onde os imprevistos o procurariam. Ficou vazio o frasco. Ou talvez não, pois parece-me que o invisível preserva o que desconhecemos e possui arte q.b. para preparar o composto do tal elixir desejado por todos nós. Não importa a língua em que é nomeado, cada um procura descobri-lo como pode e bebe-o de acordo com o seu paladar. Nem sempre tarefa fácil, por vezes a sombra ofusca a luz, sabemos isso por experiência própria. Neste caso, por exemplo, equilibrar o frasco na minha mão esquerda, qual aranha pronta a alimentar-se do que lhe cai na teia, e com a outra premir o botão da máquina fotográfica acoplada ao tripé, constituiu desafio moroso para conseguir uma imagem razoável. Não me admiro, se calhar a felicidade exige-nos disponibilidade para a encontrarmos entre os delicados fios de seda que vai tecendo com mestria para se abrigar do imponderável. 
M